COP30 e o Papel do Agronegócio Brasileiro: Um Ponto de Virada para a Liderança Climática 25/07/2025

Em novembro de 2025, o Brasil sediará a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Líderes, negociadores das Partes do Acordo de Paris, representantes da sociedade civil e partes interessadas dos setores privado e produtivo se reunirão em Belém, no estado do Pará, para abordar um dos desafios mais urgentes da atualidade: as mudanças climáticas.

Este ano, as negociações se concentrarão em adaptação e transição justa. A revisão dos compromissos climáticos dos países, expressos por meio de suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), juntamente com os debates sobre financiamento climático, também estarão no centro das discussões. No entanto, um cenário geopolítico complexo pode travar o progresso em diversas frentes.

A recente saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e as mudanças políticas em curso na Europa estão remodelando a agenda climática global. Embora os EUA continuem sendo parte formal até que sua saída entre em vigor legalmente, optaram por não participar da rodada de negociações de junho. Essa ausência eliminou uma potencial fonte de impasse processual, mas não facilitou o consenso entre os itens da agenda. De forma mais ampla, a saída dos EUA envia um sinal preocupante de recuo do multilateralismo climático, lançando dúvidas sobre a continuidade dos compromissos financeiros, especialmente considerando o papel do país como o maior contribuinte histórico para o financiamento climático no âmbito do Acordo de Paris.

Na Europa, as últimas eleições marcaram um declínio significativo na representação do Partido Verde no Parlamento Europeu, com repercussões em Estados-membros como a Alemanha. Essa mudança política já se reflete na agenda interna do bloco, particularmente no pacote legislativo “omnibus” que visa flexibilizar as regulamentações ambientais e reverter pilares fundamentais do Pacto Ecológico Europeu.

Apesar desses desafios, a cooperação multilateral continua vital para enfrentar a crise climática. A COP30 representa uma oportunidade estratégica para os setores privado e produtivo apresentarem soluções concretas tanto para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) quanto para a adaptação aos impactos climáticos. Além disso, na ausência de uma liderança tradicional, esta COP pode ser crucial para reformular a agenda multilateral e definir novas estratégias de implementação.

Nesse contexto, o setor agropecuário brasileiro está preparado para desempenhar um papel de liderança na COP30. Sediar a conferência em seu próprio território oferece ao Brasil uma plataforma única para mostrar como a agricultura tropical pode contribuir para soluções climáticas. O país tem potencial para se posicionar como referência em sistemas agrícolas sustentáveis e transição energética, demonstrando como seu setor rural está ativamente engajado em estratégias de adaptação e mitigação.

Ao mesmo tempo, a segurança alimentar, tema recorrente nas discussões climáticas, destaca a importância do papel do Brasil como fornecedor global de alimentos. Também ressalta a necessidade de aumentar a produtividade sustentável, garantindo que o desenvolvimento agrícola esteja alinhado às metas ambientais.

A COP30 é, portanto, uma oportunidade para o Brasil reafirmar seu compromisso com a agenda climática global. Ao fomentar o diálogo entre setores, avançar em políticas públicas com duplo benefício ambiental e econômico e fortalecer a cooperação internacional, o Brasil pode ajudar a conduzir as negociações climáticas em uma direção pragmática e ambiciosa. Diante da incerteza geopolítica e da instabilidade nos compromissos financeiros, a COP30 pode ser o momento de consolidar o papel da agricultura tropical na garantia de um futuro resiliente ao clima e com segurança alimentar.

Amanda Roza é Assessora Técnica de Sustentabilidade e Inteligência de Mercado da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

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