Nos últimos anos, a relação entre Brasil e China adquiriu novos níveis de complexidade e importância estratégica. O que começou como um fluxo comercial centrado em commodities evoluiu para uma colaboração mais ampla, envolvendo segurança alimentar, biotecnologia e agricultura sustentável. À medida que a demanda global muda e os desafios climáticos se intensificam, a cooperação entre esses dois importantes atores agrícolas ajuda a moldar o futuro da produção e do consumo mundial de alimentos.
US$ 60 bilhões em exportações e uma agenda comercial mais diversificada.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), as exportações do agronegócio para a China atingiram US$ 60 bilhões em 2023. A soja ainda lidera a pauta de exportações, mas os últimos anos trouxeram maior diversificação. Produtos como óleo de milho, amendoim e grãos secos de destilaria (DDG), um subproduto rico em nutrientes usado na alimentação animal, estão ganhando importância no mercado chinês. Essa mudança reflete tanto a adaptabilidade da produção brasileira quanto o apetite por novos produtos entre os compradores chineses.
Carne brasileira ganha espaço na China.
No setor de proteínas, a parceria se aprofundou com a aprovação de 38 novos frigoríficos brasileiros para exportação para a China. Mais da metade das exportações brasileiras de carne bovina são atualmente embarcadas para portos chineses. A crescente presença da carne brasileira na China é resultado de esforços contínuos em controle de qualidade, padrões sanitários e processos de certificação. Segundo o MAPA, não se trata apenas de volume, mas sim de credibilidade, rastreabilidade e alinhamento com as expectativas do mercado.
O café entra em uma nova fase no comércio bilateral.
O café brasileiro também está entrando em uma nova fase na China. Em 2025, um acordo entre o MAPA e a ApexBrasil preparou o cenário para a exportação de 240 mil toneladas de café até 2029. No valor de US$ 2,5 bilhões, o acordo marca uma virada. Com o crescente interesse pela cultura do café entre os consumidores chineses mais jovens, a posição do Brasil como o maior produtor mundial de café está sendo alavancada para oferecer produtos tradicionais e especiais adaptados a novos gostos.
Segurança alimentar e sustentabilidade orientam cooperação futura
Além do comércio, a agenda agora inclui medidas conjuntas de segurança alimentar e sustentabilidade. O Diálogo Brasil-China sobre Segurança Alimentar, realizado em 2025, destacou prioridades comuns em biotecnologia e agricultura de baixo carbono. A experiência brasileira com bioinsumos, tecnologias de sementes tropicais e modelos agrícolas resilientes ao clima é cada vez mais relevante à medida que a China busca garantir um abastecimento alimentar confiável e sustentável. De acordo com o MAPA, a cooperação nessas áreas deverá se expandir nos próximos anos.
Uma aliança de longo prazo com impacto global
A conexão entre Brasil e China reflete uma mudança mais ampla nos sistemas alimentares globais — onde o comércio está cada vez mais vinculado à inovação, à resiliência climática e a interesses estratégicos mútuos. Em 2024, os dois países celebraram 50 anos de relações diplomáticas, um marco que ressalta a profundidade e a continuidade dessa aliança e sinaliza sua relevância para as próximas décadas. À medida que a parceria se fortalece e se aprofunda, ela oferece lições sobre como dois líderes agrícolas mundiais podem alinhar capacidades para atender tanto às demandas imediatas do mercado quanto aos desafios globais de longo prazo.