Estradas, ferrovias e rios: o Brasil que alimenta o mundo merece estradas à altura

O Brasil está prestes a colher mais uma safra histórica — estima-se que mais de 330 milhões de toneladas de grãos serão produzidas em 2024-25 . Esse número reafirma com orgulho o que o mundo já sabe: somos um dos maiores produtores de alimentos do planeta. A agricultura brasileira mostra sua força: safra após safra, ela semeia, cultiva, colhe, entrega e enfrenta desafios. A cada novo recorde, surge também um desafio logístico; no entanto, se enfrentado com seriedade e estratégia, pode se tornar a próxima grande conquista nacional: o escoamento eficiente dessa riqueza .

Embora a logística rural enfrente obstáculos históricos, ela tem um enorme potencial de mudança. Atualmente, grande parte da nossa produção ainda é transportada por rodovias — cerca de 85% da soja e do milho são transportados por caminhão. Sabemos que existem gargalos, mas também há caminhos abertos para melhorias: investimentos estruturantes, inovação tecnológica e políticas públicas integradas podem reverter esse cenário.

Nas novas fronteiras agrícolas — as regiões Centro-Oeste e Norte, além do chamado Matopiba (que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) — os desafios logísticos exigem soluções sob medida. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), mais de dois terços das rodovias avaliadas em 2024 apresentam algum grau de deficiência. Isso impacta negativamente os custos e a competitividade, mas também reforça a urgência e a oportunidade de agir. Cada estrada reformada, cada quilômetro pavimentado ou ferrovia reativada é um passo robusto rumo a um agronegócio mais eficiente .

As ferrovias, por exemplo, representam uma alternativa promissora. Embora representem atualmente apenas 18% da matriz de transportes, o potencial de expansão é enorme, especialmente com concessões modernas e tarifas justas. O mesmo vale para a navegação interior: com mais de 40.000 quilômetros de rios navegáveis, o Brasil possui uma das maiores redes hidrográficas do mundo ; no entanto, apenas 19.000 km são efetivamente utilizados. Com infraestrutura, dragagem e sinalização adequadas, podemos transformar nossos rios em verdadeiras avenidas para o progresso.

Em relação aos portos, a vocação exportadora do Brasil precisa ser impulsionada por meio de modernização e maior eficiência . Mais de 95% das exportações agrícolas são processadas por eles. Melhorar os calados, integrar os acessos, reduzir a burocracia e investir em tecnologia são medidas que gerarão retornos significativos para a economia. Estima-se que os gargalos portuários custem atualmente mais de US$ 20 bilhões por ano. Superá-los é uma questão de estratégia e visão de futuro.

O armazenamento, outro elo fundamental da cadeia, também exige atenção. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) recomenda uma capacidade de armazenamento de 120% da produção anual — o Brasil tem 72,9%. Mas há indícios promissores: o fortalecimento das instalações nas fazendas, com fácil acesso a crédito e treinamento técnico, pode reduzir perdas, otimizar a comercialização e aumentar a renda do produtor. É uma agenda vantajosa para todos: para o campo, para a indústria e para o país como um todo .

Já temos conquistas tangíveis. O Arco Norte é um exemplo notável: a participação dessa rota nas exportações de grãos dobrou nos últimos 15 anos, de 16,6% em 2009 para 34,6% em 2024. Com planejamento e investimento, podemos ir ainda mais longe, diversificando os escoamentos e consolidando uma logística moderna, integrada e eficiente.

No entanto, para avançar na logística, o Brasil precisa alinhar seus pontos fortes. Não se trata de obras: o que é preciso é visão de Estado, coordenação entre os poderes e diálogo contínuo com o setor produtivo . A logística do agronegócio é uma engrenagem que vai do campo ao porto, e cada peça precisa funcionar em harmonia.

A tecnologia é uma aliada crucial: digitalizando, rastreando, prevendo colheitas, otimizando rotas e treinando profissionais. Já temos o conhecimento, as ferramentas e, acima de tudo, o capital humano para dar esse salto . O que falta é transformar a intenção em ação.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vem fazendo a sua parte, apresentando propostas consistentes em todas as frentes: legislativa, executiva e judiciária. A Confederação defende a reestruturação dos corredores multimodais, a atualização dos marcos regulatórios, concessões mais atrativas, uma política nacional de mobilidade rural e a valorização das hidrovias. Propõe também desenvolvimentos em portos e armazenagem, com foco em crédito acessível e capacitação.

O Brasil planta com excelência, mas também precisa colher com eficiência. Assim, a eficiência logística é o próximo capítulo do nosso protagonismo global . A sociedade e o poder público brasileiros devem garantir que essa produção siga seu curso natural — por estradas, ferrovias e rios — até chegar ao mundo com rapidez, qualidade e competitividade. Afinal, quem alimenta o mundo merece caminhos à altura .

Fonte:
https://brazilianfarmers.com/news/roads-rails-and-rivers-the-brazil-that-feeds-the-world-deserves-roads-to-match/

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