Fazendas de café brasileiras na Amazônia capturam mais carbono do que emitem, segundo estudo

Um novo estudo realizado por pesquisadores brasileiros confirmou que o cultivo de café na Amazônia pode ser produtivo e ambientalmente positivo. O estudo, realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), constatou que as propriedades rurais familiares que cultivam café Robusta em Rondônia — um estado da Amazônia Ocidental — capturam 2,3 vezes mais carbono da atmosfera do que emitem durante o processo de produção.

A pesquisa, baseada em medições de campo e análises de laboratório, calculou que cada hectare de café na região remove, em média, 3,88 toneladas de carbono por ano. O balanço líquido de carbono é obtido pela comparação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) — como as provenientes da irrigação e do uso de fertilizantes — com a quantidade de carbono armazenada na biomassa das plantas de café, incluindo troncos, raízes, folhas e frutos.

Esta é a primeira vez que um balanço de carbono desse tipo foi estimado para a produção de café na Amazônia, tornando os resultados uma possível referência para estudos futuros e sistemas de créditos de carbono no Brasil.

Os pesquisadores também desenvolveram uma calculadora de emissão de carbono projetada para uso por agricultores locais, permitindo que eles simulem sua própria pegada de carbono e tomem decisões informadas sobre práticas sustentáveis.

“O estudo comprova que a produção de café na Amazônia é sustentável”, disse Juan Travian, presidente da CAFERON, a associação regional de produtores de café. “É importante mostrar ao mundo, com evidências científicas, que nosso café contribui tanto para a subsistência quanto para o meio ambiente.”

Pequenas propriedades rurais impulsionam práticas sustentáveis.

O setor cafeeiro em Rondônia é predominantemente formado por pequenas propriedades familiares, com cerca de 17.000 produtores trabalhando em uma média de 3,5 hectares cada. Esses agricultores frequentemente dependem da colheita manual e do uso de fertilizantes orgânicos (como cama de frango e casca de café); eles também implementam cada vez mais práticas climáticas inteligentes, como sistemas agroflorestais e manejo da cobertura do solo.

O estudo estima a pegada de carbono média da produção de café na região em 0,84 kg de CO₂ equivalente por quilo de café verde — um valor inferior à média global para sistemas semelhantes. Essa pegada favorável se deve, em grande parte, ao uso limitado de fertilizantes nitrogenados sintéticos e combustíveis fósseis.
Os pesquisadores também enfatizaram a relevância de selecionar variedades de plantas de alto rendimento e resistentes ao clima e implementar práticas regenerativas que melhorem a saúde do solo e a biodiversidade.

“O café robusta é uma planta lenhosa com alta capacidade de armazenamento de carbono”, disse Carlos Ronquim, pesquisador líder da EMBRAPA Territorial. “Quando manejado corretamente, torna-se uma ferramenta significativa na remoção de carbono e na mitigação das mudanças climáticas.”

Um destaque para a COP30 e a Agenda Climática do Brasil

Os resultados do estudo serão divulgados na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, programada para ocorrer na cidade brasileira de Belém em novembro de 2025. O projeto será apresentado no estande AgriZone da EMBRAPA, como um caso de integração bem-sucedida de agricultura sustentável e ação climática no bioma Amazônia.

A iniciativa faz parte da estratégia mais ampla da EMBRAPA, a “Jornada pelo Clima”, que visa consolidar soluções baseadas na ciência para reduzir emissões e aumentar a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares do Brasil.

Nas próximas fases, os pesquisadores planejam expandir a análise de carbono para incluir os estoques de carbono do solo, o que pode melhorar ainda mais o balanço de carbono nesses sistemas de café — especialmente quando cultivados em pastagens previamente degradadas.

Ao combinar inovação científica com conhecimento local e agricultura tradicional, os produtores de café da Amazônia de Rondônia mostram ao mundo que é possível produzir café de alta qualidade e ao mesmo tempo cuidar do planeta.

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